6.11.11
Desacertos Públicos de Vasco Pulido Valente
Pedindo emprestado ao nosso confrade do Portugal dos Pequeninos o excerto do artigo de Vasco Pulido Valente, sobre a discussão da possível redução do número de feriados nacionais, inserido no Público, creio que de 04.Nov.2011, transcrevo-o a seguir, para nele assinalar passagens assaz censuráveis, sobretudo se atendermos à qualificação académica de VPV e ao seu prestígio intelectual, com larga influência na opinião pública.
Neste seu escrito, a meu ver, naturalmente, VPV labora em erros vários, que cumpre assinalar e combater :
1- O 1.º de Dezembro foi inventado, sim, mas para restaurar a independência de Portugal; foi violento logo no seu início e levou a uma persistente guerra de 28 anos com Espanha; para nossa futura glória, todas as batalhas desta guerra se sagraram pela vitória das armas nacionais; no final delas, a Espanha reconheceu a independência portuguesa e assinou Tratado de Paz;
2 - O domínio filipino, ao contrário do que VPV afirma, não foi mera união dinástica, mas anexação política progressiva, particularmente indesejada pelo Povo miúdo e por algumas casas nobres.
Esta anexação foi-se tornando cada vez mais asfixiante, sobretudo com os dois últimos Filipes e, a prevalecer, conduziria inevitavelmente à subalternização, se não ao completo apagamento da cultura portuguesa, a começar no uso dominante, oficial, da Língua, que passaria a ser o castelhano, tal como sucedera na Galiza, uma vez perdida a soberania, de pronto submetida a forte castelhanização, ao longo dos séculos XIII e XIV, de tal forma que o galego nunca mais se desenvolveu, tendo mesmo sido apodado de língua de labregos, indigna de uso nos Tribunais e nas Casas Senhoriais.
Quando no século XIX os intelectuais galegos o pretenderam recuperar, encontraram inúmeras dificuldades, incluindo certo desinteresse do próprio Povo, já conformado com o uso do idioma castelhano.
3 – O o feriado de 10 de Junho deve obviamente permanecer, mesmo não se sabendo ao certo nem o dia nem o ano em que Luís de Camões morreu, havendo dúvidas entre 1579 e 1580, como tampouco se conhece a data do seu nascimento, estimando-se o ano de 1524, como um dos mais prováveis, por mero cálculo retrospectivo, a partir da carta de perdão de D. João III de Março de 1553, a libertá-lo da prisão, para logo de seguida Camões poder embarcar para a Índia. Sendo estes os escassos registos de alguma confiança de que dispomos e mesmo com todas estas incertezas, a data de 10 de Junho, foi há muito adoptada e consagrada para celebrar o Poeta, por excelência, Nacional, cuja vida atribulada se tomou como exemplo da gesta heróica dos Portugueses. Daí a sua adequação para Dia Nacional.
Certamente poucos povos no mundo se poderão orgulhar de ter o seu Dia Nacional associado ao nome de um dos seus mais ilustres escritores, que fixou, na forma literária mais apropriada de então, a Épica, a presença portuguesa no Mundo, com a narração do seu maior contributo para a Civilização, que foi a empresa dos Descobrimentos marítimos e a difusão da Língua Portuguesa nos cinco continentes do Globo.
Daí que, a haver um dia de Portugal, este seja porventura o mais exaltante de todos os demais possíveis.
4 – Por último, a concessão que VPV faz à manutenção do 25 de Abril como feriado nacional, independentemente do forte sentimento popular que a ele ainda permanece ligado, é pura contemporização sua, oportunista quanto baste, com certa Esquerda, tida por bem pensante, com a qual, de resto, VPV ainda conserva velhas «afinidades anti-fascistas»;
Lamento ter de tecer estas considerações a propósito de um artigo de um Professor de História, ainda por cima universitário, algo mitificado como intelectual rebarbativo, incorruptível, «enfant-terrible» de todas as maiorias governativas, mas a incoerência e a sem-razão demonstradas cobram seu preço.
VPV tem igualmente méritos e virtudes indesmentíveis, como Historiador e como comentador político, mas, obviamente, não goza de nenhuma infalibilidade e, por vezes, dá o flanco em toda a linha, como sucedeu aqui neste seu pequeno artigo, em que andou arredado das musas inspiradoras e também de algum, sempre necessário, bom senso.
Que as musas ora mal cortejadas, incluindo Calíope e Clio, as mais propícias nesta matérias, lhe façam companhia benéfica, em próximas ocasiões, é o desejo que todos lhe devemos formular, assim como um pouco menos de presunção e um pouco mais de humildade cívica tampouco lhe causariam dano.
Transcrição a seguir do excerto do artigo de Vasco Pulido Valente, publicado no Público de 04-11-2011 e divulgado na internet pelo confrade do blogue Portugal dos Pequeninos:
CINCO CHEGA
«Oficialmente, temos 14 feriados por ano em Portugal. De facto, temos mais e, até agora muito mais. Temos, primeiro, os feriados nacionais e, ao contrário de toda a gente, logo dois: o 1º de Dezembro e 10 de Junho. Tanto um como outro são meio inventados.
O 1º de Dezembro supostamente comemora o fim do domínio espanhol, que na realidade não foi um "domínio", mas só uma união de Estados que continuaram independentes, sob o mesmo rei.
O 10 de Junho, que para efeitos cerimoniais se chama "Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades" (e dantes se chamava "Dia da Raça") é em princípio no dia da morte de Camões (que ninguém sabe quando morreu) e parece que se destina a exaltar disfarçadamente o Império, que já acabou e de que, num tempo de correcção política, se não pode falar. A seguir, temos feriados políticos: que são três.
Como era inevitável o 25 de Abril, a data da "revolução dos cravos", em que o regime celebra o fim da Ditadura e a presuntiva glória da sua obra; o 5 de Outubro, que introduziu uma República jacobina em Portugal e promoveu 15 anos de perseguição e violência; e, finalmente, o 1º de Maio, uma velha festa internacional dos trabalhadores, quando os trabalhadores eram "o proletariado".
O resto dos feriados - nove - são feriados religiosos, por vezes misturados com um pouco de nacionalismo, que seguem o calendário da Igreja Católica (mesmo o Carnaval, que, não por acaso, precede a Quaresma). Nenhum destes 14 feriados, excepto o Natal, suscita ainda qualquer espécie de fervor: nem os nacionais, nem os políticos, nem os religiosos. Servem só - em combinação com sábados, domingos, feriados municipais (que nada impede um qualquer município de estabelecer) e "pontes" - para aumentar o recreio e repouso da população em várias semanas por ano.
Com o compreensível propósito de acabar com isto, o Governo anunciou que iria diminuir o número de feriados; e a Igreja Católica, percebendo a sua fraqueza, ofereceu quatro. Ignoro o que o Governo pensa sobre o assunto, se pensa alguma coisa. Mas, razoavelmente, num Estado laico não devia haver mais do que três feriados religiosos (Natal, Ano Novo e Sexta-Feira Santa).
Como num Estado pequeno e indigente não devia haver mais do que dois feriados, por assim dizer, civis: o 25 de Abril, fatalmente, e, para não pôr muito nervosa a esquerda, o 1º de Maio. Cívica e espiritualmente passávamos muito bem com estes cinco.»
Vasco Pulido Valente, Público.»
AV_Lisboa, 06 de Novembro de 2011
Se há algo que me intriga é a enormíssima quantidade de energúmenos que conseguem escalar até ao topo das mais variadas hierarquias (política, sector empresarial, Forças Armadas, etc.) Fenómeno deveras estranho ao qual nem o ensino superior consegue escapar.
Assim sendo, não será de supor que, pelo simples facto de uma pessoa chegar à cátedra de uma universidade, tenha de ser um génio.
Vasco Pulido Valente perdeu, mais uma vez, uma excelente oportunidade de estar calado.
Agradeço o seu comentário desassombrado.
Há muito também que perdi a reverência por Catedráticos e demais Universitários, salvo quando honram os cargos que desempenham, demonstrando conhecimento e carácter.
Este VPV,por vezes com intervenções públicas meritórias, corajosas, é, no geral, bastante incoerente, mas a sua pior faceta é a soberba.
Gosta de se mostrar arrogante e está porventura convencido da sua superioridade intelectual ante os demais cidadãos, descurando um pormenor importantíssimo : o intelecto sem o carácter vale muito pouco e, em determinadas circunstâncias, é preferível menos intelecto com mais carácter, do que o contrário.
Sobre o parentesco de que lhe falei há tempos, para o orientar melhor, dir-lhe-ei que o meu amigo Manuel Alfaia de Carvalho, foi Alferes dos Comandos em Angola, em 73-75 e casou, em Luanda, com a filha do Gen. Leão Correia, então creio que Brigadeiro de Cavalaria. Talvez por aqui chegue à pessoa.
Um abraço de amizade e gratidão, como sempre.
Mas que cabeça a minha! Claro que me lembro muito bem desse casamento em Carmona (hoje Uíge) de que fui padrinho.
Na igreja onde decorreu a cerimónia, passou-se um episódio assaz insólito. Estando eu, impecavelmente fardado de branco, a assistir à missa, um soldado da FNLA, que estava ao meu lado esquerdo, pediu-me para lhe tomar conta da a Kalashnicov e do capacete para que ele pudesse ir comungar!...
Claro que tal só foi possível poque já se tinha dado o 25/04/74.
Já agora aproveito para lhe perguntar pelos "noivos" Clara e Manuel. Nunca mais os vi, com grande pena minha. Enfim, crueldades do destino!
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